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Esta semana, assisti a uma cena que me fez refletir o quanto ainda somos impiedosos com as diferenças. Nesta última terça, em sessão ordinária, vereadores de Santa Maria votariam, a favor ou contra o projeto que visa o acolhimento e resgate escolar das pessoas LGBTI+. A necessidade dessa proposta surgiu devido aos estudos (e realidade) apontarem que muitos desistem ainda no Ensino Fundamental pela dificuldade de aceitação e bullying vivenciados no ambiente acadêmico. São violências diárias, verbais ou físicas, que ocorrem de modo repetitivo e persistente que poderiam ser evitadas, com iniciativas como a deste projeto. Posso afirmar, inclusive, que por ocasião do meu doutoramento, 100% das entrevistadas que apresentavam alguma diferença, abandonaram o colégio por não se sentirem recebidas nesses espaços que deveriam ser de aprendizado amoroso.
Aliás, para nós, que também defendemos a família, é bom saber que 95% das interlocutoras dessa pesquisa foram expulsas de casa. Sem a família biológica, que deveria proteger e, sem escolaridade, formam novos lares e buscam seu sustento, muitas vezes, nas ruas. Portanto, reconhecemos como família aquela que cuida, respeita e zela e não a que abusa, tortura e mata.
Triste saber que precisamos de leis para que pessoas que enfrentam desigualdade de condições sejam respeitadas. Mais desolador ainda ver que alguns votaram contra a proposta. Pior é perceber que parte da população usa de expressões que sequer são verdadeiras (como 'ideologia de gênero' - posso indicar estudos comprovando que o termo é fake) para dizerem que escolas formatariam suas crianças, distorcendo a real proposta do trabalho. Enquanto deveríamos estar preocupadas com professores que abusam de meninas, gravidez na adolescência, prevenção das infecções sexualmente transmissíveis, ficam inventando palavras que geram mais preconceitos.
Só queremos que estudantes tenham acesso a informações corretas, de maneira respeitosa, obtendo subsídios para evitarem situações indesejadas, tais como abuso e violência, por exemplo. Assentir o pluralismo, promover o reconhecimento da diferença garantindo o caráter público e cidadão da formação escolar é o mínimo que se espera de uma população civilizada. A ideia não é doutrinar escolares, mas prepará-los para a vida considerando as diferenças e minimizando as desigualdades que insistem em persistir.
Santa Maria recebeu o título de 'cidade universitária' por acolher a todos que aqui chegam com o sonho de uma excelente formação. Tornou-se referência por abrigar todas as culturas, raças e etnias. Chegar ao ponto de precisar de uma lei para acolher estudantes do ensino fundamental e médio, francamente!
O coração do Rio Grande, está fazendo valer o artigo 227 da Constituição Federal, o qual diz que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Parabenizo as escolas, professoras(es) e vereadoras(es), conhecedores da Constituição Federal, que compreendem e respeitam as diferenças buscando alternativas para minimizar as desigualdades.